Ansiedade no cotidiano: quando a preocupação domina
- Psicóloga Jéssica Nascimento
- 26 de abr.
- 9 min de leitura
Atualizado: 8 de jul.

Será que você sente ansiedade?
A ansiedade está muito relacionada à (pré)ocupações, ou seja, se ocupar antes, ter o foco de atenção fora do que está acontecendo. Dizer que um pensamento é ansioso significa que, ele “está no futuro”, ligado excessivamente a preocupações com algo que pode acontecer.
Essas preocupações geralmente são coisas que se teme que aconteçam, mas que não são verdades naquele momento, não estão acontecendo e não são previsões do futuro (apesar de às vezes as pessoas acharem que elas certamente acontecerão). Assim, esses pensamentos trazem angustia e sofrimento, para quem está sentindo ansiedade. Não se sabe se aquilo que se imaginou vai acontecer, nem se vai acontecer como a pessoa imaginou, nem quando. No entanto, as preocupações e sofrimento de imaginar os piores cenários estão ali presentes, fazendo parte da vida da pessoa e a prejudicando.

É comum que pensamentos ansiosos comecem com, E se... e Será que ... (seguidos por pensamentos "catastróficos", que podem estar ligados à vária áreas da vida das pessoas).
Veja alguns exemplos alguns exemplos de preocupações excessivas e persistentes
No trabalho e estudos
Supondo que a pessoa precise apresentar dados de um período de trabalho, ela pode pensar:
-E se eu não conseguir apresentar os dados que preciso? E se a apresentação ficar ruim? E se faltar conteúdo? Se eu ficar muda? Será que vão gostar? E se eu for criticada? e se me demitirem por isso?
As vezes, a pessoa se expressa super bem, mas se sente insegura diante dos colegas de trabalho ou dos chefes. A antecipação da apresentação se torna mais angustiante do que a própria apresentação.
Depois que a apresentação passa, a pessoa percebe que foi tudo muito mais fácil do que ela imaginou. Que o problema não era tão grande como ela previa.
Pode ser até que ela não receba críticas como pensou, mas sim, elogios… e ela imaginando o pior… sofreu em excesso.
Pensamentos de antecipação que imaginam um futuro em que algo daria muito errado, além de não ajudarem a preparar a apresentação, podem até atrapalhar o desempenho da pessoa, gerar noites mal dormidas, procrastinação por medo de falhar e irritabilidade.
Outros pensamentos relacionados ao trabalho e estudos podem ser:
-E se eu não conseguir essa vaga que quero muito?
-E se eu for mal nessa prova?
-E se eu não conseguir passar nesse concurso? Nunca mais vou ter realização no trabalho, vou me sentir infeliz, eu não consigo nada!
-Será que vou ser demitido (a) a qualquer momento? e ai... vai desandar tudo na minha vida…
-Será que não passo do estágio probatório?
A preocupação com o resultado futuro impede a pessoa de se concentrar e ter bons resultados, gera sofrimento antecipado porque algo ruim pode acontecer. Além disso, quando esses pensamentos atrapalham ou impedem a pessoa de estudar, de se preparar ou de se concentrar, podem resultar na queda do desempenho do trabalho ou dos estudos. A pessoa pode ter maus resultados, não por não ter capacidade de fazer melhor (apesar, de em muitos caos as pessoas pensarem isso), mas sim porque estava muito nervosa, preocupada e não conseguiu se concentrar quando precisava.
Sentir ansiedade, muitas vezes é sentir como se tudo fosse dar errado, como se você não tivesse capacidade de lidar com as situações (aumenta o tamanho do problema, "como se ele fosse te engolir". Imagina que o pior acontecerá e menospreza a capacidade de lidar com o problema).
Mesmo sem evidências concretas, até mesmo quando quando a "empresa" demonstra que estão gostando do seu trabalho, que ele é importante e reconhecem seu desenvolvimento, mesmo assim, a pessoa que sente ansiedade pode não perceber isso e sofrer com seus pensamentos.
A pessoa pode viver em constante estado de alerta, buscando sinais de insegurança que "comprovem", sua hipótese de que algo vai dar errado. Dessa maneira, qualquer sinalzinho (mesmo que não seja realmente um sinal) serve de alerta e argumento para que ela intensifique os pensamentos (Por exemplo, se um colega de trabalho receber uma má avaliação, ela já acha que a sua também será ruim. Ou se alguém for demitido, por um motivo específico, ela já acha que isso também acontecerá com ela).
Ela pode pensar: Será que estou fazendo um bom trabalho? A comparação constante e a dúvida sobre a própria capacidade também podem ser sinais capazes de gerar ansiedade em relação ao desempenho profissional/acadêmico.
Nos relacionamentos de casal
-E se meu parceiro(a) me deixar?
-E se meu casamento/namoro acabar? -E se ele (a) me trair?
-E se ele (a) não gostar mais de mim?
Mesmo em um relacionamento estável, a pessoa ansiosa pode ter pensamentos recorrentes de abandono, gerando insegurança e comportamentos de busca por reafirmação constante.
No relacionamento com os pais
-Será que minha mãe vai gostar disso?
-Será que vai me criticar?
-O que será que meus pais vão pensar?
A preocupação em atender às expectativas dos outros e o medo de falhar ou de reprovarem suas ações podem gerar culpa e ansiedade.
Nas Finanças
-E se eu perder meu emprego?
-E se eu não conseguir pagar as contas?
A preocupação com a segurança financeira futura pode gerar um estado de alerta constante em relação aos gastos e ao futuro profissional.
Na hora de dormir, preocupada com algo que precisa fazer sobre dinheiro, ou que o dinheiro que se tem não vai dá para algo. Mesmo quando se está fazendo o que é possível, a sensação de que não é suficiente e a busca incessante por outras soluções podem continuar.
-Será que vou conseguir juntar dinheiro para realizar meus sonhos?
A ansiedade em relação ao futuro financeiro pode levar a um planejamento excessivo e a uma sensação constante de não ser suficiente.
-E se houver uma crise econômica e eu perder minhas economias?
A preocupação com eventos macroeconômicos fora do controle individual pode gerar ansiedade e insegurança.
Na Saúde
-E se essa dor de cabeça for algo grave?
A ansiedade pode levar a uma interpretação catastrófica de sintomas físicos leves, gerando preocupação excessiva com a saúde.
-Será que vou desenvolver alguma doença séria no futuro?
A preocupação com a saúde futura, mesmo sem evidências de que seria necessário, pode gerar um medo constante e comportamentos de busca excessiva por informações médicas.
Em Situações Cotidianas
-E se eu me atrasar para o compromisso?
A preocupação com imprevistos e a necessidade de controle podem gerar ansiedade em situações simples do dia a dia.
-Será que tranquei a porta/apaguei o fogão?
Pensamentos obsessivos e dúvidas sobre ações realizadas podem gerar ansiedade e a necessidade de verificar repetidamente.
-E se eu falei algo inadequado sem perceber?
A ansiedade leva a uma ruminação sobre a própria fala e o impacto nas outras pessoas.
-Será que as pessoas estão me olhando? Um sentimento constante de estar sendo julgado ou observado.
-E se eu tropeçar ou derrubar algo em público? O medo de passar por situações embaraçosas.
-Será que entendi o que a pessoa quis dizer?": A ansiedade pode gerar insegurança na interpretação de conversas.
Preocupações excessivas e persistentes, parecidas com as dos exemplos acima, podem indicar um quadro de ansiedade que se beneficiaria de ajuda profissional.
Entenda um pouco mais sobre a Ansiedade:
A ansiedade, nem sempre é patológica, ela pode ser entendida como uma emoção normal. De acordo com o Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM5), que estabelece os critérios diagnósticos para doenças mentais, o que difere os "Transtornos de Ansiedade" da ansiedade que pode ser considerada normal é a intensidade das preocupações e na maneira como elas interferem no funcionamento psíquico e social da pessoa que a sente, causando prejuízos em diversas áreas da vida.
Sendo assim, quando a pessoa consegue lidar de maneira satisfatória com as preocupações da vida diária, sabendo manejá-las e até mesmo adiar ou controlar as preocupações em momentos que precisa cuidar de outras prioridades e de questões mais pertinentes a serem feitas, a ansiedade é considera uma emoção saudável, pois não há prejuízos para a qualidade de vida.
Quando a ansiedade é patológica as preocupações são intensas, angustiantes, e com duração diferenciada, frequentemente ocorrem sem que se tenha consciência do motivo e as circunstâncias que geram preocupações são mais amplas.
Alguns dos "Transtornos de Ansiedade", identificados no DSM 5 são:

Fobias Específicas: Relacionado a medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação. Que por exemplo, pode ser medo de animais (como aranhas, pássaros, cachorros cachorros) e situações como ver sangue, estar em lugares altos e dirigir.

Transtorno de pânico: Ataques de pânico recorrentes e inesperados, os quais se caracterizam por medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos, podendo envolver sintomas de taquicardia, sudorese, falta de ar, calafrios, tonturas, medo de perder o controle ou “enlouquecer”, medo de morrer, dentre outros.

Transtorno de Ansiedade Social: Medo ou ansiedade acentuados em situações de exposição social em que a pessoa é exposta a possível avaliação de outras pessoas. Exemplos incluem interações sociais, como manter uma conversa, encontrar pessoas que não são do convívio cotidiano, ser observado e situações de desempenho na frente de outras pessoas, como falar em público.

Transtorno de Ansiedade Generalizada: Os sintomas desse transtorno se assemelham ao que popularmente é chamado "Ansiedade". Os sintomas característicos desse transtorno são: preocupação excessiva e persistente (presente na maioria dos dias) em várias áreas da vida, ou seja, em situações e atividades variadas, em que a pessoa encontra dificuldade de controlar a preocupação. Por exemplo, no desempenho escolar e no trabalho. Além disso, essas preocupações são desproporcionais, considerando-se a probabilidade real do que se preocupa vir a acontecer e do impacto que isso realmente poderia causar. Também há sintomas físicos. Como, inquietação ou sensação de “nervos à flor da pele”; fadiga; dificuldades de concentração, ou ter os famosos “brancos” de esquecimento; Irritabilidade; tensões musculares e alterações do sono (por exemplo, dificuldades para dormir, sono insatisfatório ou inquieto).
Observação: é importante mencionar que, os transtornos citados são para título de ilustração e os critérios necessários para diagnósticos vão além dos mencionados, sendo essencial avaliações profissionais específicas para diagnósticos dos transtornos.
Como sintomas ansiosos são tratados na terapia?
Na minha abordagem (chamada terapia Fenomenológica Existencial), busca-se compreender, à partir da fala da pessoa atendida, o que está gerando sofrimento e prejuízos para ela. Quais sintomas estão fazendo parte do seu cotidiano, como eles acontecem atualmente e quais áreas da vida eles afetam. Também, busca-se trazer consciência para quais outros sentimentos que possam estar relacionados, comportamentos e maneiras de agir, sentir e pensar.
Por exemplo, a psicóloga investiga se: a pessoa sente preocupações? qual a intensidade para ela? o que gera essas preocupações atualmente? Essas preocupações estão relacionadas a algo mais profundo?
Outro exemplo: Uma pessoa que sente insônia, a psicóloga pode analisar e ajudar a pessoa a perceber se: Ela sente insônia porque tem muitas preocupações? Ela tem pensamentos acelerados? se sim, quais os temas desses pensamentos? ela consegue identificar esses pensamentos? O que causa esses pensamentos? Como ela lida com esses pensamentos? O que ela já aprendeu sobre isso? quais habilidades já tem? Quais habilidades faria bem construir?
Os sintomas de ansiedade aparecem ligados a outros aspectos da maneira de ser da pessoa, a momentos específicos de sua vida atual ou de sua história de vida, que podem ser percebidos por meio do processo de psicoterapia. Por exemplo, pessoas que sentem ansiedade podem:
Querer ter certeza das coisas e sentir grande necessidade grande de controle.
Sentir autoexigência grande e busca pela perfeição.
Estar com baixa autoconfiança, baixa autoestima.
Buscar por aprovação excessiva, ter dificuldade de dizer não.
Os aspectos relacionados a ansiedade são diferentes para cada pessoa, assim a maneira de investigá-los, e as técnicas utilizadas para lidar com eles também serão específicas. Deste modo, a psicóloga busca compreender as vivências para aquela pessoa, para então poder ajudar a cuidar do que ela está vivendo.
A vivencia humana é complexa e relacionada a vários elementos que a psicoterapia possibilita perceber. Mas para além disso, ela permite visualizar e construir novas possibilidades e maneiras de agir, de sentir e de lidar com as situações da vida.
No que a psicoterapia pode ajudar?
A terapia ajuda a olhar com mais calma para o que está acontecendo, ou seja, perceber seus pensamentos, seus sentimentos para assim poder analisar suas ações, facilitando a busca de soluções.
Ajuda a perceber as situações de uma maneira mais ampla, analisar o contexto a sua realidade, suas habilidades de lidar com as situações e também, de construir novos aprendizados e habilidades quando necessário.
Reconhecer que, preocupações nem sempre são necessárias e quando são, perceber em qual medida elas te ajudam e te prejudicam, para assim poder lidar com elas de maneira assertiva, utilizando ela a seu favor e não em excesso. sem que elas te impeçam de evoluir, de ter experiências novas, de se desenvolver ou de realizar sonhos.
Ajuda a ter mais foco e tranquilidade e a dedicar a sua energia para o que é importante para você, diminuindo a procrastinação e fazendo as coisas que você quer ficarem mais fáceis de serem conquistadas.
Perceber outras possibilidades de ação e de mudança da sua realidade.
Te ajuda a refletir e perceber novas possibilidades de maneira de ser, de lidar com seus medos, angústias e dores.
Reduzir o aparecimento de sintomas físicos da ansiedade, por exemplo, propiciando relaxamento e diminuindo as inquietações.
Uso de técnicas específicas, planejadas exclusivamente para atender as necessidades de cada pessoa atendida e das áreas de vida afetadas pela ansiedade, promovendo a diminuição de sintomas e melhoria da qualidade de vida.